sábado, 6 julho, 2024

Democracia de Gênero e a Cidadania Feminina

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Não é possível relevar os discursos políticos e acreditar que vivenciamos a democracia no Brasil. Talvez, seja possível considerar que bossa sociedade é regida por uma democracia à brasileira, não sendo crível que se cogite democrática uma sociedade que mesmo sendo constituída em sua maioria por mulheres, permanece apartando o feminino das esferas de poder e decisão.

Política, democracia, representação são palavras femininas apropriadas e conduzidas de acordo com os interesses do machismo patriarcal que tenta a todo custo manter sua hegemonia excludente.

E qual seria a melhor estratégia para não permitir o avanço das mulheres?

A resposta é simples e não menos indignante, pois, ao não franquear que elas acessem os quadros da política institucional, transformam seus mandatos, quando eleitas, em trajetórias violentas e angustiantes.

Direitos básicos foram negados a uma parcela substancial do povo brasileiro, que durante muito tempo sequer podia exercer o direito ao sufrágio, tanto passivo como ativo. Essa construção social de um rótulo para as mulheres, seguido de um detalhamento opressor de comportamentos esperados socialmente, foram e continuam sendo os grandes vilões do atraso feminino nas práticas políticas.

Esse distanciamento forçado das mulheres dos espaços decisórios constitui-se na gênese da violência política de gênero, um instrumento utilizado para impedir e dificultar a participação e a representação parlamentar feminina. Mesmo depois de legislações criadas para fomentar a participação de mulheres na política brasileira, nosso avanço segue lento e totalmente dissociado do conceito de democracia.

Nosso país possui a Câmara dos Deputados mais desigual de toda a América Latina, contando com apenas 17,5% de suas cadeiras ocupadas por mulheres. Portanto, não podemos falar em cotas de candidatura dissociadas de uma atuação consciente e ética por parte dos partidos políticos que deveriam acolher e incentivar as mulheres nas esferas da política partidária. Entretanto, o que se percebe, é que para que uma mulher assuma, um homem precisará ceder o seu lugar, não há vácuo no poder, e, portanto, não há interesse de mudança.

A guerra pelo poder institucional, chancelada pela assimetria histórica criada entre os gêneros não permite falar em representação razoável, muito menos em paridade, objetivo quase atingido pela Bolívia, Equador e Argentina, países vizinhos.

Com a multiplicidade de perspectivas a serem representadas, é desanimador constatar que a Câmara dos Deputados no Brasil nunca atingiu sequer um quinto da Casa (20%) de deputadas mulheres. Temos um sistema eleitoral pouco permeável à entrada de mulheres, e sem a efetividade de políticas de equidade conjuntas e de um ajuste para cotas de legislatura, é muito provável que a jornada pela cidadania feminina seja longa e tortuosa.

Para além as necessárias fissuras no terreno espinhoso cultivado pelo patriarcado, precisamos reconhecer que nosso país acredita em mitos criados para garantir uma falaciosa paz social ancorada em inverdades, que excluem maiorias, negam direitos e afastam todo tipo de alteridade que não se encaixe no padrão masculino, branco, proprietário e rico.

Para corrigir os resquícios de uma sociedade “parida” no sofrimento imposto pela cultura colonial exploratória, escravocrata, racista e misógina, precisamos da implementação de uma democracia de gênero, que leve em conta a representação política de ideias e presença, garanta espaço e cidadania para as mulheres e para a sua pluralidade de identidades, sonhos e aspirações compartilhadas pelo gênero feminino, que abandonou o lugar de objeto para se tornar sujeito e fazer suas vozes serem ouvidas e respeitadas.

Temos muito a fazer, sigamos em frente, juntas, sempre, TODAS!

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