O glamour do jornalismo. Eu queria saber onde ele está. Não posso negar que é uma profissão que atrai muitos olhares, estar na televisão passa uma credibilidade enorme e ainda causa frisson em muita gente. Mas quem pensa que a vida de repórter é só sombra e água fresca, está enganado. Quase 100% das vezes estamos no sol e sem água. Temos nossos momentos de privilégio, mas na maior parte do tempo é emoção atrás de aventura. E a gente AMA!
Quando você assiste a uma matéria falando dos 40ºC que está fazendo em Maringá, quem está no sol derretendo para te contar isso? O repórter. Quando cai o mundo em água, com raios e trovões, quem está atrás dos policiais para te informar o que aconteceu? O repórter novamente. E quando a melhor imagem está naquele ângulo mais difícil, em meio a lama e as intempéries, o que fazer? Olha a gente lá de novo. E eu nem vou falar do frio do vento gelado que corta a mão do microfone às sete horas da noite em meio às ruas.
Vontade de ir ao banheiro em meio ao link ao vivo? Temos. Dor de barriga em momentos inapropriados? Sempre. Mosquitinhos que rodeiam seu nariz e você precisa fingir que nada está acontecendo? Tem também. Vontade de gargalhar sem motivo na presença do entrevistado quando o assunto é sério? Isso acontece comigo muito mais do que você imagina. Meu segredo é morder as bochechas e ficar sem piscar. Não sei explicar o porquê, mas funciona para mim.
Quando estamos conectados no link ao vivo, temos o retorno do que o apresentador fala no ar, certo? Podemos ficar meia hora ouvindo sem problema algum e acompanhando o que está acontecendo no programa. Quando o diretor fala no ponto: “Atenção, você vai entrar ago…” a ligação cai. Eu queria entender qual é o boicote das empresas de telefonia que derrubam nosso sinal só no momento do ao vivo. Aí é correria para ligar de novo e tentar fingir que nada aconteceu.
Eu gosto mesmo quando o entrevistado me deixa numa saia justa. Respostas afiadas, respostas muito longas quando você tem pouco tempo, respostas tão sucintas que tudo o que temos é um “sim” ou então um “não”. E o tempo. Queria entender porque quase sempre estamos atrasados. A equipe pode sair meia hora antes, sempre vai ter alguns minutos de atraso. Teorias da conspiração ou azar da repórter? Não sei te dizer.
Tudo isso faz parte da rotina da profissão assim como cozinhar está para a cozinheira, dirigir está para o motorista e tatuar está para o tatuador. Se não houvesse perrengues, o jornalista não seria jornalista. Acredite. Esse processo faz parte das nossas vidas e a gente já sabia disso no primeiro dia de aula. Talvez não sabíamos que seria tanto, mas a gente já sabia e já gostava.
A gente passa raiva, passa frio e muito calor, passa nervoso e passa fome. Mas o jornalista tem o privilégio de conhecer pessoas todos os dias, escutar as mais diferentes histórias e transmitir isso tudo a quem nos assiste, escuta ou lê. Da próxima vez que assistir a uma matéria, pare e pense: qual perrengue será que esse repórter já passou hoje? Reflita um pouco e dê risada, porque no final do dia é isso que a gente faz.
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