sábado, 6 julho, 2024

Professor da rede estadual pode se tornar primeiro indígena do Paraná a conquistar doutorado

Florêncio Rekayg Fernandes pertence ao povo Kaingang, do clã Kamé, de Nova Laranjeiras

Data:

Prestes tornar-se o primeiro indígena do Paraná a conquistar um diploma de doutorado, Florêncio Rekayg Fernandes, 46, trilhou um caminho nobre na educação paranaense. Pedagogo e mestre em Educação, ele pertence ao povo Kaingang, do clã Kamé, um dos grupos que compõem a etnia natural da Terra Indígena de Rio das Cobras, localizada em Nova Laranjeiras, no Centro-Sul do Estado.

Doutorando em Antropologia Social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Florêncio ocupa o cargo de diretor na Escola Estadual Emília Jerá Poty, na Aldeia Tupã Nhe’é Kretã, próxima à Morretes, no Litoral.

Muito antes da docência, a trajetória de Florêncio começou ainda nos bancos da escola de sua aldeia, onde foi alfabetizado na língua materna – o Kaingang – ainda no 1° ano do ensino fundamental, por um professor bilíngue, treinado no Rio Grande do Sul. O contato com a língua portuguesa começou no 2° ano, quando uma professora da Fundação Nacional do Índio (Funai) lecionou as matérias tradicionais do currículo escolar.

Esse aprendizado se estendeu até a 4ª série, quando ainda enfrentava dificuldades na pronúncia do idioma. A partir do 5° ano, entretanto, a carência por atendimento pedagógico adequado na aldeia à época impulsionou Florêncio a deixar a escola da comunidade para continuar seus estudos, ao passo que muitos de seus colegas optaram por não prosseguir com a educação.

No início de sua jornada de estudos fora da aldeia, no Colégio Estadual Rio das Cobras, na cidade de Nova Laranjeiras, ele enfrentou desafios de discriminação e preconceito. Sua habilidade na língua indígena era significativamente maior do que sua proficiência em português, o que dificultou a compreensão do conteúdo ministrado pelos professores durante seu primeiro ano de estudos longe da aldeia.

“Pensei em desistir, mas meus pais me incentivaram a aprender o novo idioma, reconhecendo a importância desse esforço para ajudar nosso povo nas lutas por seus direitos, como o reconhecimento da língua indígena no currículo escolar, e também para que eu avançasse em meus estudos e futura carreira”, relembra. Além do português, Florêncio também adquiriu fluência em inglês e espanhol.

Anos mais tarde, guiado pela missão de lecionar, o doutorando pisaria pela primeira vez em uma sala de aula como professor, a convite do cacique José Olibio, líder de sua aldeia-mãe. “No momento em que nós colocamos os pés na escola, temos uma missão: educar e também fortalecer nossa cultura”, afirma. Apaixonado pelo ensino, Florêncio decidiu dedicar-se ao magistério formalizando sua graduação e tornando-se professor regente, ingressando em seguida no concurso público com função de pedagogo, onde atua até hoje.

JORNADA ACADÊMICA E DESAFIOS NA SAÚDE

Intitulada “A formação e Atuação de Professores Pedagogos Indígenas no Paraná”, a dissertação garantiria a Florêncio a aprovação do mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), em 2016. Aprovado por ampla concorrência, o próximo passo foi dado em direção ao Doutorado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Neste intervalo de tempo, dores nas articulações e perda significativa de massa muscular levaram o docente, em meados de 2020, ao diagnóstico de miosite por corpos de inclusão, doença neuromuscular degenerativa, que provoca fraqueza muscular progressiva e posterior atrofia da musculatura corporal. A condição é classificada como doença rara, o que significa que afeta até 65 pessoas em cada 100 mil indivíduos.

Sem cura ou tratamento específico ao longo destes três últimos anos, a doença atingiu a fase cinco, provocando em Florêncio a perda do movimento nas pernas. Segundo prospecção médica, dentro de dez anos ele pode sofrer atrofia total dos músculos e também a perda da memória.

Mesmo com tamanho desafio, o professor permanece ativo em sala de aula e preserva o entusiasmo em receber o título de “doutor” no ano que vem. Presente na comunidade educacional do Paraná representando os povos e trabalhando em prol da defesa dos idiomas indígenas, Florêncio destaca que a cultura é uma parte intrínseca da vida dos estudantes indígenas do Estado, tanto dentro como fora da aldeia e, por isso, merece ser preservada. 

“A língua é parte fundamental da identidade de um povo e esse valor deve ser transmitido para os jovens e crianças. Isso envolve a apreciação profunda da herança cultural e o orgulho da própria identidade”, diz.

VEJA TAMBÉM

Criança leva gata dentro da mochila para CMEI de Maringá

Uma cena inusitada foi registrada em um Centro Municipal...

Aumento no número de casos de dengue desperta solidariedade em voluntários

Atualmente, o estado do Paraná enfrenta uma pandemia de...

TV Maringá e Beija-Flor realizam tradicional entrega de presentes para crianças

A TV Maringá e o apresentador Beija-Flor realizaram na...
spot_img

Últimas notícias

Maringá FC empata com o São José em 1 a 1, fora de casa

O Maringá FC conquistou um ponto importante fora de...

Justiça suspende greve dos professores da rede estadual

O Tribunal de Justiça do Paraná suspendeu a greve dos...

Congresso aprova R$ 4,7 bilhões em créditos adicionais para vários ministérios

O Congresso Nacional aprovou dez projetos de lei (PLNs)...

Bianca Andrade rebate comentários sobre emagrecimento excessivo

A influenciadora digital e empresária, Bianca Andrade, usou suas redes...

Declarações de IR entregues chegam a 42 milhões e superam 2023

O total de declarações de Imposto de Renda de...

Após um mês de calamidade, gaúchos não conseguem retomar rotina

A catástrofe climática no Rio Grande do Sul ainda...

Fumacê será aplicado em novas áreas de Maringá

A Prefeitura de Maringá recebeu da 15ª Regional de...

Homem ainda sem identificação morre atropelado em Paiçandu

O atropelamento aconteceu no final da noite desta sexta-feira...